Oi, pessoal! Reservamos esse espaço para contar um pouco como está sendo o nosso processo de mudança de dietas e hábitos de consumo, além do que motivou essa transição.
Em determinado momento, passamos a nos questionar se nossos hábitos de consumo são mesmo o melhor para nós e para a manutenção do mundo em que vivemos; se esses hábitos realmente satisfazem os nossos desejos e necessidades; e se o que fazemos está, de fato, de acordo com o que acreditamos.
Ainda entre nós três, essas reflexões iniciaram em espaço e tempo diferentes, por motivações únicas e particulares. O mesmo acontece em tantas outras situações da nossa vida. Nesse processo, escolhemos pessoas com quem dividir a caminhada, compartilhar os erros e acertos, na expectativa de que nos incentivemos e sejamos inspiradas por nós mesmas.
Na verdade, o que nos é comum nesse processo é o acesso a informações. Essa percepção adquirida não apenas nos faz refletir sobre o nosso papel como seres humanos e a nossa responsabilidade com o meio em que vivemos, mas também nos apresenta formas factíveis de mudar para melhor.
Então, por onde começamos? Como mudamos os nossos hábitos?
Trouxemos um depoimento escrito por cada uma de nós, construído a partir das nossas vivências e percepções, que nos ajudou a entender como dar o primeiro passo. Confere aí:
Daniele, 23.
Sou vegetariana há quase quatro anos e sempre estive rodeada de pessoas que mantêm uma dieta baseada em carnes. A minha transição de dieta foi bem abrupta: um dia, tive como uma resolução pessoal aderir ao vegetarianismo e retirar a carne da minha dieta. E assim foi. O processo para me tornar vegana, no entanto, vem levando mais tempo do que gostaria que levasse: eu ainda estou tentando encontrar o meu equilíbrio.
Desde que mudei a minha dieta, conheci pessoas que se tornaram vegetarianas, mas um dia comeram um hambúrguer de picanha e pensaram que aquilo não era para elas (e tantas outras variações, mas com a mesma reflexão final). Às vezes, a sensação de que você entrou em algo que depois não pode voltar atrás é desmotivadora. Essas histórias me fizeram pensar que há certa imagem já formada sobre o que é ser vegetariano e, por consequência, vegano.
Uma semana antes de me tornar vegetariana, fui numa pizzaria com uns amigos e me lembro de dizer: meu Deus, eu amo frango com catupiry. Isso mesmo, com a boca cheia e tudo. Desde que me tornei vegetariana, essa é uma história que tenho vergonha de contar. Parece que você assina um contrato sobre o seu papel e, se ingerir alguma carne, ou mesmo sentir vontade de, você está dando um passo para trás e quebrando uma importante cláusula.
A grande verdade é que não precisa ser assim. Não precisamos viver - ou deixar de viver - pela culpa. Há algumas coisas pelas quais estamos mais inclinados a abrir mão, outras ainda não. A clareza de que estou em um processo de constante desconstrução e aprendizado me permitiu viver com muito mais leveza.
A pergunta mais honesta que recebi desde que me tornei vegetariana foi: do que você mais sente falta? Honesta porque ela entendia que o ato de sentir falta de algo não era digno de repulsa, mas uma parte natural do processo. Pergunta engraçada, eu acho que é da pizza de frango com catupiry. Ainda não encontrei um substituto para ela.
Mas está tudo bem. Quando eu deixei de comer a pizza de frango com catupiry, eu me permiti descobrir a de brócolis, a de palmito, a de rúcula e muitas outras que têm seus próprios sabores, e aprendi a gostar de cada uma delas. Não só a pizza, mas toda a minha dieta passou a ter mais cor e o meu paladar foi ganhando mais complexidade.
O paladar foi o único que ganhou complexidade, mesmo. Porque, nesse processo, eu também fui descobrindo que não preciso de muito. Às vezes, só um prato de arroz, feijão e couve refogada já me deixa satisfeita. Com o tempo, você deixa de sentir necessidade de certas coisas e abrir mão passa a ser um processo mais natural, até imperceptível. Outras vezes, não consigo dispensar aquele hambúrguer de 20 ingredientes e temperos. Eu passei a aceitar que é normal que essa vontade surja. Pode ser que, um dia, ela não exista mais. Mas se existir, tudo bem também.
Karine, 27.
Desde a minha infância, sempre gostei muito de comer carne. Até hoje, meus pratos preferidos contêm algum tipo de animal e estou tentando mudar isso. Mas, para mim, pensar em soluções definitivas sempre foi muito assustador. “Nunca mais vou fazer isso… ou aquilo…” são frases que eu raramente falo.
Acredito que as coisas começaram a mudar depois que adotei três gatos e passei a entender que eles também necessitam de amor, atenção, carinho e respeito. Aos poucos, percebi que os gatos que moram em casa não são diferentes dos demais animais, e comecei um processo de questionar a seletividade no tratamento entre eles.
Este gatilho mental foi importante para que hoje eu pudesse rever os meus hábitos de consumo: desde a dieta até os produtos de higiene, beleza, vestimentas, produtos de casa e, consequentemente, o lixo que produzimos.
Estou muito animada para essa transição, entretanto, por se tratarem de hábitos que ainda estão enraizados em mim, acredito que o processo de desconstrução será mais saudável se for tranquilo e gradativo.
Ana, 26.
Sempre tive uma relação muito caótica com a comida. Em grande parte por uma dificuldade constante em engordar, um desejo antigo meu e que determinou as minhas escolhas alimentares. Na minha cabeça, para engordar eu precisaria ingerir uma quantidade elevada de carne e derivados do leite. Durante muitos anos comi carne sem qualquer reflexão que não fosse a centrada no meu peso.
Depois que o vegetarianismo passou a ficar em evidência na mídia e nas redes sociais, passei a questionar minhas escolhas. Tentei uma dieta vegetariana por cerca de um mês, mas essa escolha não acompanhou uma reeducação alimentar e acabei abandonando.
Considero-me uma pessoa ativa: faço musculação pelo menos três vezes por semana e, por causa disso, preciso ingerir uma quantidade determinada de proteínas por dia, requeridas pelo processo de hipertrofia. A carne, em específico a de frango, passou a ser fundamental para a minha dieta. Apesar do bem estar que o exercício provoca, do ganho saudável de peso, não me sinto realizada. Nesse processo de desconstrução, hoje entendo que meus valores são mais importantes que a minha imagem, e que deixar de consumir carne e alimentos de origem animal não significa abandonar minhas aspirações quanto a atividade física e ao meu corpo.
Tenho muitas expectativas quanto essa transição de dietas, mas tento me manter o mais comedida possível. Entendo que preciso respeitar meu tempo e estudar mais profundamente sobre como conciliar minhas aspirações individuais com uma responsabilidade coletiva.
- Apesar das diferenças, ouvimos e interpretamos os nossos medos, anseios e limitações. A partir disso, aprendemos a respeitá-los e a encontrar caminhos que compensem aquilo que ainda não estamos dispostas a abrir mão, e que nos estimulem a perceber que não precisamos de tudo o que hoje podemos ou gostamos de ter.
Escolhemos esse caminho, porque temos esperança de que mesmo as pequenas mudanças possam abrir espaço para tantas outras, maiores e melhores.
Não há receitas, segredos, muito menos contratos para uma mudança de dieta e hábitos, ou para uma transição ao vegetarianismo ou ao veganismo. Você pode criar o seu próprio caminho com tudo aquilo que faça mais sentido naquele momento. O importante é que você se permita descobrir novos gostos e abrir mão de outros quando não sentir mais necessidade.
Nós vamos tentar. Daqui pra frente, vamos compartilhar tudo o que aprendemos, mesmo as tentativas e os erros. Esperamos que isso nos leve para um caminho melhor, e que esse seja realmente um ambiente de troca.
E você, está disposto a mudar ou já começou o seu processo de transição? Conte para nós as suas vivências e, se quiser, vem com a gente!
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